Espetáculo de Nelson Motta, Tim Maia – Vale Tudo, O Musical traz pela primeira vez aos palcos a história de um dos maiores ídolos da música brasileira.
Com direção de João Fonseca, o musical já foi visto
por mais de 100 mil pessoas, desde sua estreia no Rio de Janeiro em
Agosto de 2011
“Tim Maia foi o ser mais livre que eu conheci”. A frase de Nelson
Motta sintetiza de forma ampla e ao mesmo tempo precisa uma das figuras
mais controversas, anárquicas e amadas que a música deste país já
produziu. Tudo no saudoso artista é superlativo, inclusive o retumbante
sucesso de Tim Maia – Vale Tudo, o musical, que se tornou o grande
fenômeno da temporada teatral carioca em 2011.
Com direção de João Fonseca e texto de Nelson Motta, o musical finalmente chega à cidade de São Paulo, dia 09 de março no Teatro Procópio Ferreira.
Com direção de João Fonseca e texto de Nelson Motta, o musical finalmente chega à cidade de São Paulo, dia 09 de março no Teatro Procópio Ferreira.
O elenco é encabeçado pelo jovem Tiago Abravanel, de apenas 24 anos,
que já está sendo apontado como uma das grandes revelações do teatro em
2011, indicado ao Prêmio Faz Diferença, do Jornal O Globo, na categoria
Teatro.
Com sete musicais no currículo, Tiago teve a responsabilidade de trazer à cena toda a complexidade de Tim Maia, mas os unânimes elogios não deixam dúvidas de que ele superou todas as expectativas. “Quando vi o Tiago na audição, fiquei impressionado. O fraseado, a expressão, a voz… o Tim já estava ali”, relata João Fonseca, diretor do espetáculo. Izabella Bicalho, Lilian Valeska, Pedro Lima, Andreh Viéri, Bernardo La Rocque, Reiner Tenente, Evelyn Castro, Pablo Ascoli, Aline Wirley e Leticia Pedroza completam a escalação.
“Para os demais papéis, chamei atores que conhecia ou com quem já tinha trabalhado. Nem foram necessárias aulas de canto, todos já vieram totalmente preparados”, explica João Fonseca. Cada um deles interpreta de três a sete personagens, desde os pais de Tim Maia e figuras célebres como Roberto e Erasmo Carlos, Elis Regina, Jorge Benjor, Carlos Imperial, Chico Buarque e o próprio Nelson Motta, até presenças pontuais como os irmãos, músicos, amigos, entre outros.
A amizade com Tim, conta Nelson Motta, começou em 1969, quando
produziu para o disco de Elis Regina o dueto que apresentou ao mundo o
vozeirão do cantor, ‘These are the songs’. Por isso, é testemunha de
histórias incríveis, como as aventuras vividas nos Estados Unidos, no
início da carreira, graças a um improvável convite da Arquidiocese. A
viagem não terminou bem: Tim voltou ao Brasil deportado, acusado de
roubar um carro e de portar substâncias ilegais.
Do livro para o palco, o processo de transposição do texto foi todo
muito orgânico e em parceria: “Fui amigo do Tim a vida inteira, sabia
tudo dele. Então foi fácil e muito prazeroso escrever, porque o João
Fonseca me ajudou muito com a sua visão teatral, cênica de espetáculo.
Sou de uma escola jornalística, narrativa, linear, e ele me estimulou a
criar cenas livremente”. Esta foi a segunda experiência de Nelson com
teatro. A anterior havia sido ‘A Feiticeira’ (de 76), em parceria com
Fauzi Arap e protagonizado por Marília Pêra. “É muito difícil”, dá a
pista sobre os motivos da volta à dramaturgia teatral e emenda: “Além
desse auxílio luxuoso – e decisivo – do João, o espetáculo é uma obra em
progresso, que foi sendo adaptada e ajustada durante os ensaios, de
acordo com as possibilidades que se abriram. Para mim foi tudo novidade.
E estou tomando gosto!”.
O diretor João Fonseca optou por estruturar a narrativa em blocos
temáticos, que são ilustrados por clássicos de Tim que remetem
conceitualmente a cada passagem. A cena se desdobra a partir da infância
pobre no bairro carioca da Tijuca, o contato com a música e as
primeiras bandas que integrou, como ‘Tijucanos do Ritmo’, ‘The Sputniks’
e ‘The Snackes’, quando conheceu Roberto Carlos, Jorge Benjor e Erasmo
Carlos.
Momentos como a partida para os Estados Unidos, em 1959, e a posterior deportação por roubo e porte de drogas; a eclosão da Jovem Guarda e a gravação do primeiro disco; a primeira grande paixão, Janete, e as discussões explosivas travadas entre o Rio e Londres em diversas idas e vindas; o período em que aderiu à ideologia ‘Racional Superior’; a explosão popular; os filhos; a formação da banda Vitória Régia…todos os acontecimentos são permeados por episódios memoráveis (e na maioria das vezes hilários) radiografados com precisão de detalhes por Nelson Motta.
Fiel à construção narrativa concebida por Nelson e João, o cenógrafo
Nello Marrese projetou a área cênica como um palco de show com paredes e
objetos de estúdio, os dois lugares onde Tim Maia se sentia mais à
vontade.
A partir disso, há 14 trocas de cenário através de adereços e elementos alegóricos. “As mudanças ocorrem a cada bloco temático. Por exemplo, a infância é representada por um imenso varal de roupas e objetos de praia; a primeira banda dele, por semáforos e uma lambreta de verdade; já na fase ‘racional’, o palco fica todo branco; no final, usamos globo de discoteca e um telão de led”, explica Nello.
Reproduzir a estética sonora da Vitória Régia, banda formada por Tim
em 1976 e que o acompanhou por 22 anos, foi a escolha do diretor musical
e arranjador Alexandre Elias: “A Vitória Régia teve várias formações ao
longo dos anos, com 8, 9 ou 10 músicos, de acordo com as escolhas do
Tim em cada momento”. Conversando com amigos que tocavam na banda,
Alexandre chegou à formação mais constante, com dois sopros, teclado,
guitarra, baixo e bateria. Mesmo tendo mudado a sonoridade ao longo da
carreira, o que se ouve no espetáculo é o Tim Maia da black music: “ O
Tim foi o precursor da soul music no país, voltou dos EUA muito
influenciado pelo som da Motown e criou por aqui aquilo que se chama de
‘música preta brasileira’. Optamos por ressaltar as variações do Tim
Maia como cantor e compositor ao longo da carreira através da sonoridade
mais característica dele, totalmente black music, de canções
antológicas como ‘Azul da Cor do Mar’, entre tantas outras”,
contextualiza Alexandre.
E assim, uma das trajetórias mais impressionantes da música
brasileira é narrada pela primeira vez nos palcos. Sebastião Rodrigues
Maia, Tião Marmiteiro, Tim Maia, uma profusão de personagens diversos
dentro de um só, aquele responsável pela trilha sonora das vidas de uma
legião de fãs até hoje. Ou como muito oportunamente concluiu Nelson
Motta após encontrá-lo em Nova Iorque pela última vez, em 97, “Estava
muito feliz de reencontrá-lo tão alegre e bem-disposto, achei até que
estava um pouco mais magro – embora ainda imenso (…). Só consegui sair
de lá horas depois de muita conversa e gargalhadas, entre várias rodadas
de café completo, ovos mexidos e incessante carburação, me divertindo
com as histórias que qualquer ficcionista consideraria inverossímeis,
mas eram apenas fatos e acontecimentos corriqueiros do cotidiano de Tim
Maia”.
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